top of page

A todas as mulheres que já amei (ou não)

Uma poesia por Patricia Moreira

 

Desde muito cedo minhas principais referências foram mulheres e desde então esse ciclo se mantém. Minha mãe, minhas irmãs, minha avó, minhas tias, minhas primas, minhas professoras, minhas amigas, minhas afilhadas e então minha sobrinha. Ah, e minha psicóloga também!

Nunca havia pensando sobre esse fato, até que, prestes a defender meu mestrado, analisando minha vida, percebi isso. Estou cercada de mulheres incríveis e cada vez mais eu quero estar perto de mulheres. Até mesmo aquelas que me dão exemplo de como eu não quero ser, me ensinam, de alguma forma, quem eu sou.

Hoje, reflito muito sobre o papel da mulher na sociedade, sobre como nós estamos a margem e ao mesmo tempo temos uma força indestrutível, aprendi que a ambiguidade é uma qualidade, se bem pensada.

Gostaria então de dedicar algumas palavras a essas mulheres das quais amei e amo e também aquelas que marcam em mim uma diferença.

Quando criança minha alma era livre, sempre tive uma boa comunicação, expressava meus sentimentos e vivia de forma plena, como boa leonina dominava e sempre estava querendo dar um show.

Amava muito brincar com as minhas irmãs, mas neste momento brincava mais com uma delas, a mais perto de mim. Tão diferente, mas tão confidente! Respeitava sempre as suas vontades, via nela meu exemplo, é claro que nem sempre, mas de forma geral ela dava as regras. Até hoje respeito muito seu conhecimento, as vezes não né? Mas no geral sim.

Minha mãe sempre muito ocupada, mas sempre de olho, deu liberdade para que a brincadeira pudesse acontecer, fazíamos a festa, pintávamos a cara, montávamos barracas, imaginávamos livremente, claro que não tão livremente, como boa aquariana que é. Mas continua assim, PRESENTE.

As férias na casa da vó eram divinas, um quintal gigante, primos e primas, muita brincadeira ao ar livre, mas havia sempre as primas mais próximas, dormíamos nas casas das primas, as tias estavam sempre nos bajulando, era uma festa. Na volta era sempre uma choradeira, e quando estávamos longe trocávamos cartas, era um máximo, a alegria que sentia quando havia chegado uma carta é inexplicável. Minha avó se foi há pouco tempo, mas a presença dela está eternizada em mim.

Até que houve um evento crucial, a primeira menstruação, eu ainda muito nova, nesse período vivíamos um momento de separação na família, e nesse momento eu me fechei, meu ascendente em escorpião tomou vez. Não conseguia mais ser livre, não me expressava mais da mesma forma e nem queria mais dar show. Me envergonhei, me calei, me sentia errada, suja, eu não queria aquilo. Tanto que não contei para ninguém, minha mãe descobriu a força.

Hoje refletindo sobre a menarca em um grupo incrível de mulheres incríveis (todas são incríveis) percebi que na verdade eu estava braba comigo mesma, com meu corpo, negava o fato que a infância estava partindo.

Depois desse período passamos por um momento muito difícil, minha irmã mais velha apareceu e me deu a mão, me apoio, me abraçou e senti que ela estava ali e que nunca mais ia sair. Não saiu mesmo, do jeito dela é claro.

Minha mãe mesmo distante com os trabalhos estava sempre presente nos detalhes, nos abraços apertados, no docinho que trazia, no almoço que deixava pronto no domingo.

Mas eu estava sempre distante, muito pensativa, tive nesse momento amigas muito especiais, que a vida agora nos afastou, mas não esqueço das palavras, da troca de experiência, de poder acompanhar a gestação de uma querida amiga, do apoio, das brincadeiras e principalmente por me aceitarem, mesmo eu sendo mais “certinha”, reservada, mais calada.

O tempo passou, encontrei uma fé muito grande, me vinculei, me entreguei, encontrei amigos que mudaram a minha vida, amores que me ajudaram e outros que me deceparam. Ser igreja foi intenso, lá encontrei uma nova liberdade, porém foi embora quando encontrei uma pessoa que não queria me ver tão livre, a fé se perdeu, talvez um dia eu ache. Os amigos também, mas esses eu não sei se voltam.

A faculdade chegou, passei a acreditar que amigas mulheres não eram tão legais assim, encontrei um ótimo amigo que me levou a mulheres incríveis que hoje tenho o imenso prazer de dizer que são minhas melhores amigas, de uma delas veio dois seres iluminados que hoje sou madrinha, muito amor. Consegui me desvincular daquela pessoa e então me abri a uma oportunidade que me mostrou de novo a liberdade, essa sim me quer ver livre, e me incentiva muito. Junto, no pacote, veio uma família de mulheres incríveis que me acolheram de uma forma inexplicável, é muito incrível estar com elas. Nesse momento, também uma outra mulher esteve presente, uma prima irmã, apesar de uma diferença de 10 anos, há uma proximidade de uma vida toda.

Tive a oportunidade de trabalhar durante longos anos com várias mulheres, não esqueço de nenhuma, o trabalho de uma vendedora traz algumas experiências bem ruins, porém traz também outras indescritíveis, madrugadas repondo ovos de páscoa, muitas histórias! Nunca vou esquecer, aliás um chefe mulher que sempre me apoiou e que tenho imenso carinho até hoje.

Na faculdade as mulheres dominavam, minhas orientações principais vieram de mulheres incríveis, em vários sentidos, aprendi tanto que nem consigo descrever, a minha formação é com certeza feminina e isso só me deixa mais fortalecida. Hoje com a minha experiência na docência lembro muito de todos os momentos, até consigo compreender ensinamentos que na época não era capaz de entender. Minhas alunas também me ensinaram, e muito!

Hoje me afastei de algumas mulheres e estou em paz com isso, delas eu realmente quero distância, não dá para “passar pano” para certas atitudes, mesmo vindo de mulheres. Essas me ajudaram a colocar um limite, onde eu não quero estar e onde eu não quero chegar, me dizem, por serem meu oposto, o que eu sou.

Hoje tenho uma ser iluminado que também é feminino, minha sobrinha, nem vou tentar explicar esse sentimento, é puro amor. Vê-la crescendo soa em mim um ar de esperança, talvez até um pouco de fé.

Ser mulher não é fácil, essa experiência é um mar profundo e denso, porém com a ajuda de outras mulheres é possível boiar na superfície, e, quando preciso, mergulhar fundo!

Gratidão imensa a todas elas! 

© Copyright - textos protegidos
bottom of page