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Ciclo Psicologia e Espiritualidades

Introdução

Por: franciane nolasco 

A existência de uma marcada diferença entre a psicologia e a

religião, para a maioria das pessoas, é óbvia de ser notada.

No entanto, dentro da prática da psicologia enquanto profissão

infelizmente não são poucos os casos em que a condução do

processo psicoterapêutico fere os princípios básicos que regram a profissão. Em uma parcela desses casos, é possível encontrar as raízes das intervenções mal procedidas na confusão, consciente ou inconsciente, entre o fazer da psicologia e o fazer da religião. 

Há os que dizem que ambas as áreas compartilham um nicho de atuação, a saber, a “alma humana”. Há outros que podem, por exemplo, compreender que até mesmo o conceito de “alma” tem raízes diferentes para ambas as formas de conhecimento de modo que, ao falarmos sobre “alma humana” nos diferentes contextos, podemos estar nos referindo a diferentes fenômenos. Quando procuramos a definição de “alma”, por exemplo, podemos perceber que há uma certa dificuldade em delinear esse conceito, o qual sofreu e ainda sofre transformações em seu significado ao longo do tempo.

Restritamente no âmbito da psicologia, é possível dizer que há uma certa unidade nesta como um todo que, no entanto, apresenta diferenças gritantes na forma como compreendem seu “objeto de estudo”, sendo “alma humana” apenas uma das possibilidades de descrição dele. Isso pode parecer confuso em um primeiro momento - “Você quer dizer que não há uma psicologia, mas várias?” - Sim! Cada uma descreve o homem a partir de um determinado “olhar” teórico. Cada uma compreende o processo do existir e do fazer psicológico a partir de uma ótica específica. Por isso, mesmo dentro da psicologia, dizer que trabalhamos com a “Alma humana” pode ser vago e necessitar de maiores desmembramentos conceituais para que compreendamos o que se quer dizer com tal conceito.

Além disso, recentemente, a OMS passou a compreender o conceito de saúde como uma completude que abrange a espiritualidade humana. E que, portanto, deve ser considerada nas propostas de tratamentos das diversas áreas. Em outras palavras, o ser humano deixou de ser compreendido como um ser biopsicossocial, para ser contemplado como biopsicossocial espiritual. Isso significa que além de compreendermos que os componentes biológicos, as questões psicológicos e os contextos sociais são importantes de serem levados em consideração nos estudos sobre o ser humano, também a área da espiritualidade se tornou uma área que deve ser estudada de forma consciente e propositiva para uma compreensão mais ampla e profunda. Cabendo, então, às diversas áreas do saber compreenderem a faceta da espiritualidade humana como importante de ser levada em conta na compreensão do ser humano como um todo e na produção de conhecimento. A psicologia, enquanto ciência, também tem sido convidada a pensar sobre isso. No entanto, a temática, apesar de estar sendo colocada a nós de forma explícita na atualidade, já faz parte de nossas reflexões há um tempo, ganhando apenas contornos mais grossos e visíveis na época atual. 

Não apenas a visão do ser biopsicossocial espiritual nos chama a habitar esse lugar, como também as diversas dificuldades que os profissionais da psicologia e outras áreas enfrentam para compreender o fenômeno da espiritualidade na psicoterapia, muitas vezes caindo em visões do senso comum e “esquecendo” de pautar sua prática em saberes ligados ao movimento científico. Para citar um exemplo mais claro, houve um tempo (e ainda hoje) em que muitos psicólogos foram denunciados por oferecerem tratamentos conhecidos como “Cura gay”. Tal tratamento é considerado dentro da psicologia enquanto ciência sem qualquer respaldo ou validade científica, ferindo gravemente os Direitos Humanos nos quais a profissão está pautada.

 

Além do mais, ainda hoje há uma grande preocupação com a existência de psicólogos que fazem uso de fundamentos religiosos em seu exercício profissional. Sem falar em temas específicos em que deveríamos sempre apelar para o Código de Ética da profissão e garantir o direito de escolha dos indivíduos que vêm ao nosso encontro, como por exemplo, no caso de crianças que estão em processo de reformular a compreensão que possuem quanto a seu gênero junto às suas famílias. Muito há o que se discutir dentro do que seria exatamente conduzir uma psicoterapia ou intervenção psicológica pautando-se em nosso código de ética em detrimento ao pautar-se em ideologias.

Por isso, estou aqui escrevendo a vocês sobre este tema tão importante de ser discutido. Nosso trajeto será longo, com lugares difíceis de trânsito que, no entanto, apenas ao serem percorridos podem nos levar a uma consciência ampliada dessa temática. Lançaremos uma série de textos que possuem uma linha (e sequência) de exercício do pensamento, no entanto, podem ficar à vontade para transitar de forma livre entre eles.

Vamos junt@s!

Desenho de uma flor com pétalas rosa nas pontas e amarela no centro
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