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Ídolos  & Redes sociais

Por Patricia Moreira

Vou confessar uma coisa para vocês, eu não tenho nenhum ídolo. Nunca tive e sempre tive muita dificuldade de entender como alguém poderia amar tanto uma pessoa que não conhece pessoalmente ou intimamente. Ou melhor, alguém que sequer a conhece. Quando via as pessoas desesperadas por pessoas famosas e fazendo cartas quilométricas e outras loucuras por uma pessoa que nem sabe que a pessoa existia, ficava uma dúvida enorme na minha cabeça: Por quê?

(não estou falando aqui de crush famoso, mas de pessoas que de fato idolatram artistas e faziam absurdos por eles)

Obviamente eu sempre admirei o trabalho de muitos artistas, mas me via separada deles, entendia que o que eles mostravam era só uma parte da vida deles e não tudo, por isso nunca me envolvi nesse nível com nenhuma pessoa famosa, pois para mim era clara a diferença entre a obra e o artista.

Hoje em dia vivemos um fenômeno muito interessante nas redes sociais: a superexposição. A carreira de digital influencer é o resultado disso, ou vice-versa. Diferente do que víamos na televisão, no cinema, nos livros e no teatro. As redes sociais de famosos e dos digitais influencers tem a pretensão de mostrar aquela pessoa de uma forma mais íntima e natural.

Essa proximidade criou a falsa impressão de que você de fato conhece aquela pessoa, e eu caí, caio e vou continuar caindo nessa armadilha.  

Parece que o jogo virou, não é mesmo? Acompanhar de perto os youtubers, instagramers, podcasters e tiktokers é um caminho sem volta.

Não faz muito tempo que eu comecei a acompanhar pessoas que eu não conheço pessoalmente nas redes, acredito que há cerca de 2 ou 3 anos. Antes disso, eu nem tinha Instagram, demorei para fazer um, usava só o Facebook. Usava também o Youtube, mas não para seguir pessoas, mas para ver vídeos tutoriais ou os memes, sem acompanhar nenhum trabalho específico.

O primeiro canal que comecei a seguir foi o “JoutJout, prazer”, e fiquei viciada, o primeiro vídeo foi “Não tire o batom vermelho” e depois comecei a maratonar e descobrir outros canais de pessoas maravilhosas, aprendi muito, mas também me perdi muito. Entrei em uma espécie de loop de vídeos dos quais nem sempre prestava atenção, estava mais procrastinando mesmo.

E assim é com as outras redes também, os digitais influencers de fato sabem muito bem como influenciar as pessoas, me pego várias vezes imaginando como seria ser amiga deles, porque de fato, há uma sensação de identificação muito grande. É um grande surto, que pode ser muito bom, porém é preciso saber o limite dessa brincadeira.

Algo que ainda estamos aprendendo, quando digo nós, me refiro a: anônimos e famosos. A cultura do cancelamento está aí para mostrar que a superexposição tem um lado muito cruel e devastador. A ética ainda encontra dificuldade de se estabelecer nas redes, vemos que há um esforço grande das pessoas em tentarem estabelecer limites legais nas interações online, porém a sensação ainda é de que a internet é um espaço sem Lei.

A verdade é que os influencers podem ser um grande espelho daquilo que há de melhor em nós, mas também do que há de pior. Nos vemos em suas atitudes, invejamos seus pertences e obviamente o capitalismo não demorou nem um segundo para perceber a potência econômica que há nesta relação.

Ouço muitas pessoas falarem: a internet é uma mentira. Será mesmo? Obviamente não há uma exposição em tempo real, porém não vejo dessa forma, como se tudo fosse mentira. Acredito que a distância do online para o real tem se afunilando cada vez mais, porém há uma diferença inquestionável: no formato digital eu posso editar a minha vida, fora dos stories não dá.

Quando olhamos para nossos influenciadores preferidos é importante ter em mente que o amor e carinho que sentimos por eles está relacionado com aquilo que eles escolhem mostrar nas redes. E tudo bem (é sobre isso). Lembremo-nos que há uma distância gigantesca entre nós e eles, e ela (a distância) não é de fato física, mas da relação mesmo. E se posso sugerir outro exercício, procuremos entender o que amamos tanto assim nessas pessoas, tentemos encontrar onde nos encaixamos nessa admiração, o que ela tem a ver conosco? Tenho a impressão que é justamente nesse lugar que poderemos encontrar algo importante sobre nós mesmos, porque de fato não é sobre o outro, mas sobre o que sentimos por esse outro.

Acho que achei a resposta da grande pergunta que mencionei no começo, por que temos ídolos? Talvez seja a vontade incessante de ser um pouco igual a ele e a crença de que, se ele notasse nossa existência, isso poderia se concretizar.

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